quarta-feira, 19 de maio de 2010

O último que sair, desligue o som

Após quase sete anos, conhecendo pessoas, cidades e aprendendo um pouco mais sobre o mundo eletrônico chegou a hora de “abandonar o barco”. Talvez esteja ficando velho para continuar freqüentando as festas, muito seletivo ou talvez, como diz minha mãe, criando juízo – prefiro acreditar que seja a última opção –.

Já faz alguns meses que perdi a vontade de registrar as festas conhecidas como comerciais. Comecei a freqüentá-las em 2004 e me apaixonei pela cultura que envolvia esse tipo de evento, a paixão foi tão grande que até meu Trabalho de Conclusão de Curso teve como tema principal a cena eletrônica. Durantes esses anos pude assistir projetos como Skazi, Infected írem de ídolos à “chacotas”; presenciei o surgimento de tendas alternativas em um ambiente dominado pelo Full On; ouvi a imprensa divulgar notícias preconceituosas sobre o cenário e acompanhei o “boom” das raves.

Para mim esse ‘crescimento’ teve suas vantagens para o cenário como o surgimento de núcleos sérios e com isso abrindo uma concorrência em busca de se organizar “a melhor festa”, porém surgiram também núcleos formados por pessoas que vêem as festas apenas como uma possibilidade de ganhar dinheiro fácil. Esse boom também foi o responsável pela inclusão de pessoas que viram as raves apenas como um local ‘livre’ para o consumo de drogas, alguns inclusive se vangloriam em redes sociais por terem tomado ‘x’ doces e ‘y’ balas em uma só festa.

 

Atualmente as festas são realizadas em lugares diferentes, possuem diversos nomes, mas as fotos são sempre ‘iguais’. Se colocar minhas ultimas fotos lado a lado, sem alguma identificação de data, cidade ou festa eu mesmo não consigo dizer de qual evento é. As raves tornaram-se um lugar ideal para exibir aquela cueca da Calvin Klein, aqueles mililitros de silicone, o resultado de horas de academia e alguns segundos de aplicação de bomba, aquela fantasia do carnaval passado ou até mesmo aqueles passinhos ensaiados (rebolation, sensualiza). Posso dizer que hoje as festas foram tomadas por uma geração de jovens de muito dinheiro, pouca ideologia e nenhuma consciência.


Hoje em dia não temos mais o argumento de que as raves reúnem milhares de pessoas e não existem brigas, furtos ou coisas do gênero. As pessoas não se importam mais com as outras, antes se alguma pessoa estava sentada no chão era comum alguém parar e perguntar se estava tudo bem ou se queria alguma coisa, agora quando se senta no chão tem que tomar cuidado para não ser pisoteado.

Continuarei freqüentando algumas festas como a Tribal Tech que, na minha opinião, deu um passo importantíssimo, no ano passado quando incluiu um pouco mais de cultura em seus eventos; a Respect que atualmente considero uma das melhores festas, pela organização, line up e principalmente pela magia que ela passa para seu público. Não posso deixar de mencionar os festivais, sejam de três ou sete dias, sejam em São Paulo, Bahia ou Portugal, mas que só quem já esteve em um para entender o que se sente lá dentro.

Gostaria de agradecer a todas as pessoas que conheci durante esses anos – não vou citar nomes, pois com certeza esquecerei alguns – aos núcleos No Limits, Kaballah, T2 por todo o apoio concedido e lógico não poderia de esquecer um vai tomar no ## para todos os “pseudotrancers” que conseguiram fo#d## de vez com essa magia que envolve o cenário.

13 comentários:

Francielle Kistner disse...

Putz Rodrigo.. Concordei em gênero, número e grau com o que escrevesse.. E não só vc anda desanimado. Eu, e mtos Djs e frequentadores que ando conversando, andam tb.
A coisa tá virada de um jeito, que as pessoas que curtem as festas por amor a música e a arte, estão desanimadas. Logo agora que eu estou cada vez mais saindo do núcleo "baladinhas de playboy" e indo pro núcleo "boa música + amigos + arte + respeito" .
Na boa, virou um modismo FDP. :(

Anônimo disse...

Rodrigo,
É com pesar que leio este seu post;
primeiro porque sei do grande artista fotográfico que as festas estão perdendo;
E segundo, por entender perfeitamente o seu motivo.
No final do ano passado tbm resolvi 'abandonar o barco', mas não por não gostar mais das festas, nada disso! Mas pelos mesmos motivos que levaram você e tantos outros trancers a pararem de freqüentá-las: de não ter mais aquela sensação de ser parte da festa; de se sentir ‘em casa’; de perceber que todos estão na mesma vibe que você, e que todos somos um e unidos pela musica eletrônica.
Nas festas atuais, há a dispersão das energias, existem interesses pessoais divergentes, o que resulta nisso que temos hoje – pessoas curtindo o som sem nenhuma (ou quase nenhuma) integração, num egoísmo prepotente que desfigura a velha (porem não desatualizada) filosofia PLUR.

Os sentimentos de revolta me invadem tbm, mas cada vez menos agora;
Temos que acostumar a ter paciência e esperar as novas mudanças que virão, e elas virão - a história confirma isso.

:D


Obs: minha mãe tbm disse a mesma coisa: finalmente está criando juízo! hehehehe

Anônimo disse...

Pessoalmente tou querendo abandonar a cena faz uns 3 anos, mas penso assim. Com todo tipo de estilo de vida existem positivos e negativos, o suposto underground e o comercialismo total.
Duvido e muito que voce va parar de fotografar as festas bacanas. Tenho quase certeza que devo ti ver la na 303 art, a nao ser que recebas uma proposta indecentemente boa.
Como dizem... nunca se sabe o dia de amanha.

ps: e se comecarem a offerecer grana indecente para voce voltar a fotografar as comerciais, vc vai negar?

Unknown disse...

o que se temia virou realidade!
infelizmente as festas vem se tornando chacotaria mesmo!
de uns tempos pra ca to curtindo cada vez mais
marca com uns brother de fz um som numa chacara de algum conhecido do que ir em um festival!
parece que se aproveita muito mais sem medo sem culpa sem ter que ver coisas desagradaveis!
e o blog nao vai continuar? venho todos os dias aqui muito interessante!!! seja o que acontecer sorte na caminhada abraços!

jefferson disse...

Rodrigo,
com certeza muitos vão ler esse post com pesar, mas infelizmente o que você disse logo acima é uma das verdades mais doloridas que vemos atualmente.
Fica aqui meus votos de felicidade e sucesso em sua vida, gostaria de salientar que ainda há um horizonte saudável nas festas, logicamente não nas festas voltadas ao público acima citado, se não podemos mudar o mundo então tentamos mudar as pessoas que nos rodeiam, apresentando uma face que não conhecem.
espero nos conhecer na magic paradise.
forte abraço!

Zen disse...

PQP Rodrigão! Mto bom o texto! Tb to nessa indignação, mas parar PARADO mesmo ainda acho difícil. Porque, na pior das hipótese, eu continuo indo para apreciar o som de alguns DJs, pois é dificil ter outro lugar pra fazer isso visto que poucas ou quase nenhuma casa noturna toca coisas não comerciais ("Jovem Pan" style).

Mas é isso ae, vamos continuar com essa indignação, principalmente qdo falamos de DINHEIRO, pois rave hoje em dia tá virando coisa de rico! Estacionamento a R$30,00? Água a R$5,00!! Absurdo!

Zen

Rodrigo Bittencourt @ TechnoBitt disse...

O Gomes disse tudo!!!! Agora pergunto, o que é mais fácil, abandonar tudo ou lutar pelos ideais que aprendemos nas antigas?!

Como uma pessoa pública, assim como o Gomes, acredito que se nós, os verdadeiros amantes da música eletrônica e toda a sua vertente cultural, começarmos a lutar contra esse comércio indiscriminado que virou a cena, podemos trazer de volta o TESÃO e a ANSIEDADE que tínhamos há alguns poucos anos atrás, vamos colocar nossa criatividade em xeque e acharmos soluções para que nossa cena não vire uma CHACOTA total!

Obs: Minha mãe ficou de cara com a primeira rave que começou de dia, se não me engano a Chemical em 2006... Lembro até hoje, eu saindo de manhã e ela perguntando, onde o sr. vai essas horas da manhã, eu digo, pra rave e ela, de dia?! O.O Que podre... ahehahehaehaheahe

Francielle Kistner disse...

O mais fod* é a gente perceber que tá TUDO virando POP ou FABRICA DE DINHEIRO..
Não só raves, não só baladas.
Virar DJ virou sinônimo de "tô na moda, sou cult, sou pop".. Não se preocupam em demonstrar técnica (salvos excessões, claro), bom repertório, amadurecer.. Parece que cada vez mais, a cena eletrônica "dá ré"..
E assim.. Demos um "VIVA" os DJs BBB's, a sonoridade Kesha - Lady Gaga - os fritos que vão pra rave só pra tomar drogas e os boys que vão pra balada entupir o c* de cachaça e pagar de gostoso pras "mulheres" (pra não falar um palavrão bem feio e digno)..
Um viva a eles.. que levam nossa cena pra trás!

Rodrigo disse...

É com grande tristeza que também leio seu texto, pois todos sabemos que o que disse traduz o sentimento de muitos. Só quero te pedir que continue sim a tirar fotos, a fazer textos com esse sentimento, e que cada vez mais mostre com seu trabalho a verdadeira essência e alegria que se deve ter no cenário eletrônico. Me passou um filme na cabeça quando li o seu texto Rodrigo.
Até mais e é isso ae rapaz !!!

Kah disse...

=/

É o que eu sempre digo..
A única coisa que ainda me arrasta para as "comerciais" são os DJs que (nfelizmente) não conseguirei ver em festas menores.
Não digo pelo lado psicodélico, pois de psicodelia as festas comerciais não têm quase mais nada.

Até os DJs, antes idolatrados, hoje adptam seu som para o novo público. E a psicodelia se perde cada vez mais.

Festas grandes agora é para ouvir o low bpm das pistinhas "alternativas".
Sei que este assunto traz muitas discussões, uns são contra, outros são à favor, mas o fato é que eu passei a amar tanto outras vertentes, além do full on que não posso deixar de ouvir.

Full on que se preze agora para ouvir, apenas em festas como respect MESMO. Pois eles são realmente psicodélicos.

Mesmo frequentando festas ha menos tempo q vc, tive as mesmas sensações. Ver tudo se perdendo cada vez mais =/
Eu ainda pude presenciar um pouco do "legal" até a avacalhação de hoje.

Mas agradeço MUITO por terem me dado a oportunidade de presenciar experiências psicodélicas maravilhosas e de, principalmente, conhecer pessoas que só me acrescentaram coisas boas, como você, entre outros.

A única coisa q me deixa feliz é q ainda tenho a oportunidade de te encontrar em festas como a Respect e em futuros festivais que planejo ir.

A gente se vê nos melhores lugares psicodélicos por aí!.

Namastê.
=**

Gabriel Donati disse...

Você foi e é referência pra mim!
Nada de parar! Selecione as boas e vá.
Não vai se arrepender.

P.L.U.R. Veiiii...

Silvio Lucena disse...

Infelizmente caimos nisto...em Porto Alegre é a mesma coisa...comercial tomou conta...e os mercenários surgiram para acabar com algum resquicio de cultura...ainda resta uma raça q tenta levar adiante o real espirito da coisa...mas remar contra a maré é foda...
Creio que tudo é um ciclo...daqui a pouco o comercial enjoa e as pessoas mesmo as fanfarronas podem mudar seu pensamento e passar intender o real significado de tudo. Sonhar não custa nada...

Unknown disse...

ainda lembro da época dos Eventos que rolava de boca a boca de ultima hora,, acontecia uma magia boa.. agora ta ficando tenso..mais é isso agente tem que ter humildade sempre..
bom vou fica no aguardo do woodstok.

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