quinta-feira, 12 de novembro de 2009

(entrevista) M.A.N.D.Y

Dupla fala sobre sorte e como cuidar de um selo em 2009

"Nós nos perguntamos se temos sorte, e definitivamente tivemos bastante. É sempre uma combinação de hora certa, fazer a coisa certa e estar cercado das pessoas certas".

Rindo, provocando e terminando as frases um do outro enquanto discutem sua carreira de 15 anos na dance music, o duo M.A.N.D.Y., da Get Physical, formado por Phillip Jung e Patrick Bodmer, goza de sua boa fortuna, mesmo que Patrick aponte a sorte como uma pequena figurante em seu sucesso: "bom, claro que você não pode comprar as conexões certas, então de certa forma você pode dizer que foi sorte, mas você não pode deixar de lembrar que nós fazemos nosso futuro", diz ele.

"Nós estávamos fazendo muitas produções com nomes diferentes, tocando em nossas próprias festas antes do M.A.N.D.Y, desde 1991. Nós tivemos Ricardo Villalobos em uma dessas festas, e Ata da Playhouse também", lembra. "Então em 1994 Reiko Isolee começou a ir nas festas. Ele não estava produzindo na época e ficou atrás da gente em uma festa, perguntando "que é essa música que vocês estão tocando? eu quero fazer esse tipo de música, é ótima". Então ele começou a produzir, e o irmão dele estava estudando comigo na universidade na época e ficamos com essa conexão. Se você é muito apaixonado pelo que faz e trabalha nisso, então tenho certeza que uma hora, de todos os negócios em que você se envolver, um vai ser bem-sucedido".

Juntando com DJ T (do club de Frankfurt Monza) e Arno e Walter (do Booka Shade) os amigos formaram o selo alemão Get Physical no começo desta década, mudando para Berlim em 2002, sendo pioneiros da onda minimal-tech-house que revitalizou a cena club global. Em 2005, seu nome estava explodindo quando o Booka Shade co-produziu a track "Body Language", que se tornou um hino de Ibiza e foi licenciada para mais de 100 compilações.

Quatro anos depois o par continua no topo, sendo recentemente recrutados pela Renaissance para assinar o mais recente mixado CD do grupo, pouco depois de ter sido headliner de duas gigs na Pacha Ibiza, na noite da Subliminal de Erick Morillo.

Patrick Bodmer vem ao Brasil para um M.A.N.D.Y. DJ set como atração da festa especial de 13 anos da XXXperience, no próximo dia 14/11.

Eu associo a Reinassance, certo ou errado, com Rocher Sanchez, Satoshi Tomiie e house anos 90, não com o M.A.N.D.Y. Como isso aconteceu?
Patrick: Foi exatamente por isso que eles nos procuraram, eles queriam entrar em outros estilos de música. Eles gostaram do nosso CD mais antigo e pensaram que poderiam ter uma chance conosco. Foram super entusiasmados quando nos procuraram, foram legais e nós nos sentimos felizes por ver que eles entenderam o que estávamos fazendo. Nós tivemos controle artístico total em todo o projeto e não houve a necessidade de transformar o CD em algo diferente do que queríamos. Além disso, eles têm uma atitude completamente profissional em relação ao trabalho, algo que nós amamos.

Quatro ou cinco anos atrás houve uma onda de CDs mixados sendo lançados toda a semana, agora vemos apenas um punhado por mês...
Phillip: Eles não vendem mais, esse é o problema. Nossa compilação Body Language ainda está indo OK, acho que compilações como a Global Underground e Coccoon ainda estão indo bem, mas não vejo outras. Se você não vende pelo menos 1500 cópias de cada CD, então não vale a pena, e as vendas caíram demais. Esse é o principal problema hoje. Você tem que pagar pelas faixas que vai usar, tem que pagar os artistas e o selo e pouco acontece depois disso.

Levando em conta tudo isso: porque a Reinassance está fazendo exatamente isso com vocês agora?
Phillip: Eles fizeram isso antes, umas três ou quatro CDs mixados com os DJs de sempre, mas se eles quiserem continuar lançamento compilações, eles sabem que precisam de sangue novo - não que nós sejamos assim tão fresquinhos (risos). Eu diria que nós somos "sangue novo" em termos de música. Como um negócio, você sempre alcança momentos em que precisa abrir para novas direções e eu acho que é isso que a Renaissance está fazendo conosco, planejando para o futuro.

Além de ser M.A.N.D.Y. vocês também são co-proprietários da Get Physical. Considerando o colapso atual da indústria musical, como vocês vêem o selo em cinco anos?
Patrick: Os tempos estão mudando, definitivamente, mas nós estamos trabalhando muito duro no selo e esperamos estar por aqui em cinco anos. Nós temos que mudar muitas coisas, não é mais suficiente apenas lançar boas faixas de dance music, não existe mais venda de vinil e você faz pouco dinheiro vendendo no Beatport e outros portais de download. Então é preciso seguir divulgando e desenvolvendo os artistas, com álbuns. Você tem que construir artistas, criar um catálogo, vender música do passado, tudo isso apenas para poder pagar as pessoas que trabalham para o selo. Você precisa ter gente trabalhando com imprensa e marketing. Não é mais apenas sobre dance music, o que é bom para nós porque nunca estivemos interessados em apenas lançar 12'' e ferramentas para DJs. Estamos procurando mais um formato de cantor/compositor que faça música interessante para todas as direções. E se você conseguir colocar uma faixa em um video game, então talvez você ganhe dinheiro suficiente para pagar seu staff por um ano. É preciso espalhar.

É rotina para vocês viajarem pelo mundo como DJs e estrelas, tenho certeza que poderiam seguir fazendo isso sem o selo: porque continuar?
Patrick: Atualmente nós poderíamos fazer isso sim, mas no começo era diferente, o selo ajudava muito. Nós vemos que em todo o artigo que escrevem sobre nós e nos flyers onde aparecemos, o nome M.A.N.D.Y. vem sempre junto com uma menção Get Physical. Hoje nós não precisaríamos do selo se considerarmos as gigs como DJs, mas nós seguimos com ele por prazer e por diversão. Nós nunca tiramos nenhum dinheiro da companhia para nossos bolsos, é e sempre será um hobby.
Mas no momento você também tem que ser cuidadoso e não perder dinheiro. A outra coisa que é super importante é ter esse modelo de negócios com 360 graus em que as outras companhias estão operando: você cuida dos bookings, do merchandising, dos direitos de publicação, etc. É difícil abordar os artistas assim, mas apenas com a música você não faz dinheiro suficiente, então precisamos desses extras como uma companhia. Claro que devemos algo para os artistas de volta, mas esse é o jeito de sobreviver atualmente.

Então se você achar um ótimo disco agora você vai dizer para o produtor: 'eu quero lançar seu disco, mas você também vai ter que me deixar cuidar dos seus bookings como DJ'?
Phillip: Você não pode forçar ninguém a nada e claro que deve existir muita confiança envolvida, mas nesses dias você não fará nenhum dinheiro somente lançando um 12''. Deve ter estratégia: um follow up, quem sabe um álbum, uma idéia, um conceito.

São milhares de faixas lançadas a cada semana, como isso mudou a forma de identificar um novo talento?
Patrick: Nós recebemos cerca de 800 faixas digitais promocionais por semana, e claro que é música demais para alguém escutar, do ponto-de-vista de um label ou de um DJ. E muitas delas são apenas direcionadas para a pista, com a mesma idéia. Nós voltamos para a idéia original de uma gravadora onde confiamos nas pessoas como personagens. Nós gostamos da idéia de produtores sendo artistas, onde uma pessoa é viciada no que está fazendo e está fazendo pela música e não apenas pela chance de estar na capa de uma revista e ganhar fama no youtube. Nós seguimos a estrada mais longa, desenvolvendo um trabalho artístico aos poucos. Mas isso não significa que não ligamos para artistas novos e totalmente desconhecidos, nós ainda precisamos circular com olhos e ouvidos bem abertos. O trabalho mesmo está em descobrir as coisas boas.

Discotecagem e performance hoje requerem mais e mais técnica e concentração do que, digamos, há 10 anos. Quão sóbrios vocês estão quando estão tocando?
Phillip: Nós tentamos estar sóbrios no começo da noite. Uma coisa boa é que somos uma dupla então podemos contar um com o outro para lembrar de estar focado e concentrado, especialmente para gigs importantes. Nós podemos beber uma cerveja ou duas, mas nada mais que isso. Em geral, chegamos no club bastante centrados e depois relaxamos um pouco se tudo correr bem. Já tivemos muitas experiências de estarmos estragados na cabine, quando você está tocando para si mesmo e achando que é um uma mega-estrela. É um processo que aprendemos ao longo dos anos. Acho que no geral amadurecemos bastante.

A vida noturna é cheia de personagens obscuros, às vezes estranhos, à vezes criminosos. Vocês já tiveram em alguma situação assustadora, com gangsters por exemplo?
Phillip: Nós falamos recentemente sobre isso: tocamos algumas vezes em Juarez, que é considerada a cidade mais perigosa do mundo, no México. Nós soubemos que o cara que faz as festas teve que fechar por um tempo por ter tudo problemas com a máfia local...
Patrick: Nós já estivemos em algumas situações onde o promoter contava com guarda-costas para nós, como na Venezuela e no México. Mas temos sorte, no geral, e nunca estivemos em perigo realmente. Claro que você também deve receber bons conselhos do que fazer e não fazer. Em São Paulo, por exemplo, nós estávamos tocando no Skol Beats e recebemos sugestões de festas para depois do festival. E nos deram dicas muito específicas do que fazer e não fazer. Mas então eu entrei em contato com o MC Dynamite, um inglês que vive lá, e ele me levou para uma festa em uma favela. Havia muita gente com armas no local e eu era basicamente a única pessoa branca no ambiente - no começo você fica com receio, mas conforme você se relaciona com as pessoas, está tudo bem. Nós troávamos apertos de mão, e dançávamos juntos e eu experimentei o mesmo tipo de sentimento de ecstasy e fraternidade daquele verão de 1991, sabe? Nós sempre temos muita sorte...

Vocês tocaram na Pacha Ibiza essa temporada, duas vezes. O quando é necessário ajustar o seu set para uma ocasião como essa? Ou vocês levam o set 'normal' do M.A.N.D.Y.?
Phillip: Sempre que tocamos para um público novo, você tem que olhar para o DJ que é headliner ou que está oferecendo o show - nesse caso é o Erick Morillo, então nós tentamos tocar com uma energia mais house. Se alguém faz um convite, você tem que respeita-lo, e o Erick sempre foi muito legal conosco. Nós estaríamos sendo grosseiros se chegássemos tocando um set super minimalista, forçando o público dele a ir sair da pista. Nós queríamos fazer um ótimo set e foi um pouco um desafio, uma vez que o público está lá por causa do Erick. Mas foi tudo bem, foi bom.
Patrick: Foi um desafio, e se você é DJ a 13 anos, então é até um prazer ter um público diferente e poder tocar uma música diferente do que tocaria em um after-hours em Berlim. Nós estávamos fazendo discos de trance no começo dos anos 90 e tocando jungle e techno pesado nas nossas próprias festas depois disso, então nós somos pessoas que tem prazer em tocar discos diferentes. O que ainda importa é como você combina e apresenta sua música.

Fonte: rraurl.com

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