sexta-feira, 27 de março de 2009

A culpa é de quem?

Mais uma vez o cenário eletrônico foi vítima de pessoas “ignorantes” e preconceituosas que não conseguem enxergar que as raves são, em primeiro lugar, um espaço para manifestações artísticas e culturais.

As vitimas dessa vez foram os frequentadores da festa Kaballah, marcada para acontecer no último dia 21, na cidade de Campinas (SP). A festa teve o alvará caçado em cima da hora pela prefeitura da cidade, que alegou que o cancelamento foi devido à proibição à "realização de festas e demais atividades de lazer noturno naquela região, em função de barulho excessivo". Porém quem convive no meio deste cenário sabe que esses argumentos são usados para esconder o preconceito causado pela imagem negativa passada pela imprensa nos últimos anos.

Imagem essa que a cada ano vem se tornando cada vez mais real, simplesmente pelo fato de “fanfarrões” verem as festas eletrônicas apenas como um “livre espaço” para o consumo de drogas e se esquecem da essência que envolve todo esse cenário.

Hoje em dia é comum encontrarmos em sites de relacionamentos pessoas dialogando abertamente sobre: “quais drogas tomaram ontem”, “onde comprar”, “competição entre amigos para ver quem agüenta tomar mais”. Também se tornou comum gravar vídeos e tirar fotos de pessoas desconhecidas ou não e depois publicar esse material na internet para ser acessado por todos. Esse mesmo material é o que acaba servindo para a imprensa sensacionalista bombardear de notícias negativas as páginas de jornais e os noticiários da TV. Então será que a imprensa é mesmo culpada por essa “péssima imagem” que as raves adquiriram ou somos nós mesmos?

Raramente, ou quase nunca, se vê matérias envolvendo as ações sociais desenvolvidas pelos núcleos organizadores não são mostradas. Para se ter uma idéia, nesta edição da Kaballah cancelada pela prefeitura a estimativa era de arrecadar oito toneladas de alimentos não perecíveis que depois seriam doados para instituições de caridade. Além da parceria com o projeto Dance 4 life, que tem como principal finalidade dissipar a idéia de proteção e prevenção contra uma das doenças que mais matam no planeta: a AIDS.

Não se mostra também que as raves geram um grande número de empregos terceirizados, desde a montagem da estrutura, equipe de limpeza, equipe do bar entre outras pessoas. Além do que, se realizado um projeto junto com a prefeitura o município só tem a ganhar, como é o caso da cidade de Ituberá (BA), onde desde 2003 é realizado o maior festival de cultura alternativa do país: o Universo Paralello. Graças ao festival a cidade recebe todos os anos milhares de turistas vindos de todos os estados brasileiros e também de países como França, Alemanha, EUA entre outros.

Mas então qual é a melhor solução para resolvermos esse impasse e evitarmos que mais festas sejam canceladas e jovens morram dentro delas? Para a DJane e sócia do clube Kraft (Campinas/SP) é “fundamental a regulamentação das festas, para garantir eventos com segurança para o público, com qualidade e estrutura para atender bem os consumidores. O que não pode acontecer é um monte de festinhas pipocando por aí que não oferecem o mínimo de conforto para as pessoas que pagam por um bom evento. Proibir nunca, porque as festas são grandes celebrações musicais e culturais, mas tem que haver regras para quem organiza, e proteger o público de falta de segurança e organização.”

Proibir nunca foi e nunca será a melhor maneira de se resolver uma situação como essa, temos como exemplo, em nossa história o Ato Institucional nº5 o qual recrudesceu a censura, determinando a censura prévia, que se estendia à música, ao teatro e ao cinema de assuntos de caráter político e de valores imorais. Onde várias pessoas foram presas, torturada e mortas por expressar suas idéias e valores.

Proibindo as raves as drogas continuarão dentro dos clubs, escolas, esquinas e tantos outros lugares. Basta os governantes assumirem que isso é um problema público, que está em todos os lugares e não apenas onde se escuta “música eletrônica repetitiva por várias horas”. Os freqüentadores também devem fazer a sua parte e entender que a música vem antes das drogas e não ao contrário como vem acontecendo de alguns anos para cá.

Quando essas duas partes – governo x público – entenderem qual o seu papel dentro deste cenário eletrônico com certeza teremos festas melhores.

Veja abaixo a opinião de algumas pessoas sobre o assunto:

Bruna Armani – Assessora de Imprensa do Grupo No Limits: Tenho ciência de algumas restrições isoladas, não está havendo um movimento unificado por parte do poder público contra as festas. O que gera mais alarde são as discussões on line e boatos do que propriamente as proibições. Festas dentro das normas exigidas por lei são praticamente 100% aceitas, porém existem eventualidades que podem interferir na concessão do alvará.

DJ Mush (www.djmush.com.br): Eu acredito que tem empresas serias no mercado, fazendo o trabalho para regularização do evento, com tudo que um evento precisa na parte da liberação, mesmo assim ha perseguição em algumas regiões, existe também alguns organizadores amadores e isso acabou manchando a imagem da cena, mas que fique claro que esse amadorismo existe em todos os mercados, como club, restaurante e etc. Uma regulamentação seria o ideal para que não ocorra outras festa embargadas, tendo uma regra geral para todos, é uma segurança para ambos os lados.

Katia Regina Collini da Cruz Gomes, 53 anos – Administradora: Quanto as proibições, acredito que elas acontecem devido ao uso "indiscriminado das drogas ilícitas, Sabedores que somos através da mídia de casos que chegam ao extremo com uso. Não considero que a mídia esteja formando opiniões, pois, se formos ver a maioria das emissoras de rádio e TV, tem em alguma programa seu a música eletrônica, portanto parece uma realidade os casos de mortes e overdoses em locais onde estas festas são realizadas, o que me causa estranheza é as festas serem realizadas em lugares ermos, onde sabemos que sempre haverá possibilidade de falha de segurança, outra coisa garantir que os seguranças sejam dignos, e não passem a fazer o tráfico destas drogas. Creio que deveria ser feito um fórum a fim de divulgar também a parte do divertimento e preferência musical, conscientizando seus frequentadores atuais e dando segurança para os futuros adeptos da música eletrônica.

Leandro Mello – Administrador do site Portal Mivi (www.portalmivi.com.br): O problema das proibições de algumas festas é uma tentativa do poder público de coibir o uso e o comércio das drogas ilegais. Uma tentativa que na minha opinião é inútil, proibir realmente nunca é o melhor caminho. A conscientização dos organizadores e do público em relação ao consumo descontrolado é a melhor solução de diminuir os danos causados. Atender atentamente e detalhadamente quaisquer normas exigidas também é essencial para que possamos continuar a ter os eventos.

Marluce dos Santos, 19 anos – Fotógrafa (http://www.flickr.com/photos/mar_photo): Acredito que pelo consumo exagerado de drogas sintéticas, muitas pessoas vão para a festa sem saber o que vai tocar, qualidade e tudo mais, vão por simplesmente ir, não estou falando de todos, pois muitas pessoas vão porque realmente gostam da musica eletrônica, mas acredito que proibir as festas é errado pois isso não irá impedir o consumo, até porque hoje o consumo esta tanto em baladas quanto em pagodes da vida.

Simoní Rodrigues, 25 anos - Estudante de Comunicação Social - Mídia Eletrônica: O motivo é preconceito, rave na cabeça dos que não entendem é motivo de drogas. Acham que música eletrônica é sinônimo de gente drogada. Tudo bem, que tem gente que se passa.
Autoridades e afins tem preconceito sim, embargam festas temáticas porque na cabeça deles, somos doidos que só pensamos em orgias e bagunças. Não entendem que estas festas acontecem sempre e que só queremos curtir, descontrair e ponto. Os responsáveis pelas festas deveriam sim fazer uma campanha contra o uso de drogas em excesso, fazer campanhas do tipo: “Vá pra rave, mas não abuse!”. Deveriam incentivar a galera a festar com moderação quem sabe assim ate o consumo de drogas ia diminuir.



Acesse: www.rcgomes.com.br e veja as fotos da Kaballah edição Curitiba(PR)

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