terça-feira, 31 de março de 2009

Pancadão Maximal

Guitarras distorcidas, baterias pesadas e muitas camadas de sintetizadores

Dizem que é apenas um nome criado para confrontar a soberania do minimal techno nas pistas de dança, tipo como o punk esteve para os hippies. E mesmo que o maximal não tenha nada de político em sua formação, ele confronta a passividade do minimal com a agressividade de batidas estouradas e toda a sujeira de distorções sintéticas.

Se alguns artistas como o Boys Noize o definem como "uma rebelião contra a chatice minimal", a dupla francesa Justice apenas se apóia na influência da geração french touch, mais especificamente no Daft Punk, para explicá-lo - é engraçado notar que o surgimento do maximal case com a consolidação máxima do Daft Punk no mainstream. Se 2006 assistiu o retorno do duo aos palcos, 2007 os viu sendo sampleando como base de rappers, lançando o primeiro álbum ao vivo e se consolidando como referência para a grande maioria dos novos atos da música eletrônica.

O gênero foi criado no início desse ano pela impressa especializada que não via relação alguma entre alguns produtores, DJs e bandas com a new rave. Afinal, música eletrônica feita para pessoas dançarem existe desde sempre e não é uma roupa mais colorida que definirá o seu som. Mas não estamos falando de um hype do New Musical Express: o site Pitchfork, a revista XLR8R e o blog Missing Toof estão entre aqueles que usam o termo "maximal" para definir a sonoridade de bandas como Justice, Simian Mobile Disco, Boys Noize e Digitalism e parte dos artistas das gravadoras francesas Ed Banger e Kistuné.

Apesar de não terem uma sonoridade tão uniforme quanto se espera para um novo rótulo, o que une as bandas aqui é o constante uso guitarras na maioria da composição, que passam por pesadas camadas de distorção, lembrando os solos mais cafonas do heavy metal, devidamente acompanhados de barulhentas baterias e linhas de sintetizadores secas e até TBs histéricas ocasionais.

A dupla Justice iniciou seus trabalhos em 2003 remixando a faixa "Never Be Alone" do Simian. No meio de 2007 lançaram um elogiado álbum de estréia, Cross, no qual mesclaram elementos de house, com timbres do electro e influências de rock pesado e melódico.

Justice - Waters of Nazareth

Seja nos recortes brutos de SebastiAn, no electro-grime da Uffie, no breakbeat de Krazy Baldhead ou no engloba-todos-os-estilos Mr. Oizo, a gravadora Ed Banger é a definição perfeita do maximal. Não por menos, o dono do crew é Busy P, que também é DJ e empresário do Daft Punk e Justice.

Sebastian - Ross Ross Ross
Mas esse não é um estilo restrito à terra da Torre Eiffel. Na Alemanha, o barulhento Boys Noize testa os limites de grave e agudo com sua receita de techno e electro furioso, enquanto os já veteranos do Modeselektor engrossam ativamente o coro anti-minimal em Berlim com seus timbres gingados e pró-hip-hop. Já Shir Khan aposta na diversidade de escolha para promover o seu maximal, aqui em forma de coletânea, uma das mais aplaudidas do ano por sinal. Além do Digitalism que quase apresentou as faixas do seu elogiado álbum de estréia Idealism aqui no Brasil em 2007.

Boys Noize - E Down

Digitalism - Idealistic


Logo acima na Inglaterra, a dupla Simian Mobile Disco lançou seu primeiro álbum, Attack Decay Sustain Release, no mesmo tempo que a conceituada BBC Radio 1 adiciona ao seu cast o DJ Kissy Sell Out. Esse inglês, dono de vários remixes pertencentes às listas de melhores do ano, usa timbres agudos e cheios de eco como assinatura de seu trabalho.

Simian Mobile Disco - I Believe

Kissy Sell Out - Let There Be Blazing Light


Enquanto Knightlife, Riot in Belgium e MIAMIHORROR mantêm a ensolarada Austrália bem representada, Shinichi Osawa não deixa o Japão por trás e lançou uma versão de "Star Guitars' (Chemical Brothers), talvez o melhor cover feito em 2007.

Riot in Belgium - La Musique

BRASILIANISMOS
Por aqui, o movimento cresce entre DJs e ganha fãs. Aos poucos, começam a surgir os primeiros projetos inspirados na cena internacional e, coincidentemente, os maiores destaques brasileiros são feitos por duplas. Os fluminenses do Twelves seguem a linha electro-house ácida do Justice na hora de compor seus sets e remixes, muitíssimos blogados pelo mundo recebendo dezenas de elogios. Ainda como destaque no Brasil estão as duplas Roots Rock Revolution, Database e Killer on the Dancefloor.

Como todo novo estilo musical, há aqueles que fazem esse tipo de música antes dela ter esse label, aqueles que negam sua existência e aqueles que são atirados num balaio cheio de pessoas de sonoridades diferentes. Contudo, esse não é um movimento disforme e irregular como a new rave foi em 2006. Se esse ano foi marcado pelo surgimento do maximal, 2008 pode esperar a consolidação do movimento e muitos, mas muitos filhos/clones do Justice, netos do Daft Punk, nas mais diversas embalagens.
Que consigamos filtrar bem para não cair nas repetições excessivas que já tiraram o charme de N estilos de outros tempos.
Por: Raphael Caffarena (rraurl.com.br)

Mais sobre o assunto
Maximalismo - http://guerrilhaclub.blogspot.com
Minimal vs Maximal - http://blitz.aeiou.pt

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