quarta-feira, 1 de julho de 2009

Amelia, 21 anos, deputada e pirata

Uma estudante de Economia da Suécia tem vaga quase garantida no Parlamento Europeu

São Paulo - Ela tem apenas 21 anos e está com um pé no Parlamento Europeu, o que a fará contrastar com os políticos mais velhos que costumam se eleger para a casa. Além de ser a mais nova da turma, irá mais ainda na contramão: ao contrário da atual política de se defender os direitos autorais, até com leis restritivas, pregará que é necessário liberar o download e que a bilionária indústria de entretenimento deve se virar para achar uma forma de continuar a lucrar.

Amelia Andersdotter fez parte de um fato inédito na Suécia (e no mundo). Pela primeira vez, há duas semanas, após quase se eleger para o congresso do país, o Partido Pirata – do qual é integrante – ganhará espaço no Parlamento Europeu, um congresso para legislar sobre assuntos comuns da Europa. Com 7,1% dos votos suecos, o partido, que defende o download livre, já tem garantida uma vaga. Mas pode até levar duas, caso uma lei que amplia o número de parlamentares for ratificada. Até agora, 26 dos 27 países do bloco já a aprovaram. Só falta a Irlanda, que deve votar o tema em outubro. É aí que entra Amelia.

Ela, a segunda mais votada entre os candidatos do Partido Pirata, só depende disso para entrar no Parlamento. “Estou confiante de que, em seis meses, estarei no Parlamento”, disse. Para entender como uma garota de 21 anos chegou a tal posição, voltemos a 2006. Amelia, uma universitária de Economia, simpatizou com a causa política e entrou para o Partido Pirata, que, naquele ano, quase elegia um representante no congresso sueco. Em 2008, com 20 anos, torna-se a coordenadora internacional do partido, responsável por contatos com sementes de partidos piratas ao redor do mundo. Para essa tarefa, ela até aprendeu espanhol.

Com o destaque, foi indicada para a eleição ao Parlamento Europeu. Era a segunda candidata mais nova na Europa toda – a outra, que também concorria pelo Partido Pirata, tinha 18 anos. A campanha de Amelia baseou-se, como esperado, na web. Ela criou site e blog e publicou vídeos no YouTube.

Num momento em que o número de defensores do download livre aumenta na mesma proporção em que surgem leis restritivas, os eleitores, principalmente os mais novos, abraçaram as ideias dela e do partido. “Não somos contra todo o tipo de direito autoral, mas queremos um direito mais equilibrado”, diz.

Segundo Amelia, ela e o Partido Pirata propõem “mudanças radicais”. “Todos os usos não-comerciais de músicas e filmes seriam liberados. Se você baixar algo para si próprio e não for revender, tudo bem”, diz. “Também defendemos que toda a obra possua direito de proteção por apenas cinco anos. Depois, cairia em domínio público.” Hoje, dependendo do país, para uma obra estar em domínio público, é preciso até passar 70 anos da morte do autor. Mas já há países tentando estender o prazo.

E a indústria, como iria lucrar? Com a pergunta, Amelia muda o tom de voz e se mostra irritada. “A pergunta é injusta, sou só uma estudante de 21 anos. As majors, que ganham bilhões, é que deveriam pensar nisso”, diz. “Mas se querem sugestões, podem lucrar com shows, merchandising, licenciamento de músicas.”

Restrições fazem crescer adeptos

Quanto mais medidas restritivas foram tomadas pelos governos, mais movimentos políticos pela cultura livre irão crescer. Prestes a assumir uma vaga no Parlamento Europeu, a “pirata” Amelia Andersdotter defende que os 7,1% de votos que o Partido Pirata conseguiu na última eleição na Suécia são sintomas de que as pessoas estão cansadas da invasão de privacidade.

A França, por exemplo, aprovou uma lei que desconectava os usuários que baixassem – projeto semelhante foi apresentado no Brasil. A lei foi derrubada por inconstitucionalidade naquele país, mas o governo ainda quer “rapidamente” colocá-la em prática. Na Suécia, uma lei deste ano guarda toda a movimentação dos internautas. Se houver suspeita de que o usuário está baixando, as majors conseguem provas rapidamente.

Outro motivo para o Partido Pirata ter crescido na Suécia foi a condenação, em fevereiro, dos três responsáveis por criar o PirateBay. O serviço, um Google para achar filmes e músicas para download, foi apontado como “facilitador para pirataria”.

Resultado: logo após a condenação, o Partido Pirata sueco dobrou o número de filiados. Hoje são 32 mil. E, nestas eleições para o Parlamento, 24% dos eleitores com menos de 21 anos votaram no partido.

Fonte: Gazeta do Povo

Mais: acesse o site do Partido Pirata no Brasil

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