sábado, 25 de julho de 2009

A melhor banda fabricada do mundo

Uma brincadeira “virtual” que foi se tornando cada vez mais real, é assim que defino a criação do Gorillaz. Quando Damon Albarn (lider do Blur) e Jamie Hewlett (co-criador da história em quadrinhos Tank Girl) resolveram juntar música e cartoon, em 1998, não esperavam que logo o albúm de estréia do Gorillaz, que vendeu mais de sete milhões de cópias, entraria para o Guinness como a “banda virtual de mais sucesso”.

A banda “virtual”, formada pelos integrantes: 2D (vocalista), Murdoc (baixista), Noodle (guitarrista) e Russel (baterista), marcou seu nome na história com sucessos como: Clint Eastwood, 19-2000, Dracula e Feel Good Inc.

Agora a “melhor banda fabricada do mundo” vira tema para o documentário “Bananaz”, no qual conta desde a trajetória desde sua criação até o sucesso.

RIO - Um dos projetos mais bacanas vindos do mundo da música nos últimos anos (e que não saiu dos departamentos de marketing das gravadoras) foi o britânico Gorillaz. De uma conversa entre o cartunista Jamie Hewlett (o criador de "Tank girl") e o cantor do grupo Blur, Damon Albarn, nasceu a ideia de se criar algo que subvertesse o pop atual, uma banda criada inteiramente para o mundo virtual, que jamais faria shows, só existiria em clipes ou na internet, como que para zombar do sistema. E, ainda por cima, totalmente feita em desenho animado!

Mas rolou. E muito além do que os seus criadores imaginaram. Essa história toda é contada em detalhes no documentário "Bananaz", de Ceri Levy (inédito nos cinemas aqui; saindo diretamente em DVD), que acompanhou Albarn, Hewlett e todo o processo de criação e sucesso do Gorillaz, desde o começo desta década até 2007. O filme não é exatamente um musical (não tem nenhuma música ou trecho de show completo, só partes e ensaios; música mesmo, só nos extras), nem uma coisa engraçadinha. É um documentário sério, feito em película, com fotografia granulada, sobre os bastidores da banda.

Como os próprios ingleses enfocados já são bastante escrachados e liberais, o diretor não teve problema em ficar à vontade e mostrar (quase) tudo o que pôde, até cenas de Albarn no banheiro ou vomitando, depois de uma noitada. E, se alguém ainda tinha dúvida de que o Gorillaz, só por ser animação, era uma banda destinada só ao público infanto-juvenil, o filme trata de desfazer essa dúvida de uma vez por todas. Gorillaz é (e sempre foi) um projeto conceitual, que, pelo seu lado lúdico, animado, chamou a atenção das crianças e dos adolescentes. Mas, se olharmos mais de perto, veremos que as personalidades de Murdoc, Russel, 2D e Noodles são bastante esquisitas para criancinhas.

Murdoc, o guitarrista e líder da banda, é um cara largadão, que fuma, bebe e está sempre de cuecas (e adora atirar); Russell é um baterista que tem um velho espírito encarnado dentro de si; o cantor 2D parece um morto-vivo (adora filmes de zumbi); e só a japonesinha, a baixista Noodles, é que parece ser um pouco mais normal. Em suas letras, o Gorillaz trata de temas como o uso de armas pelos jovens da América, o tratamento cruel dado a crianças na África, e também temas abstratos, que envolvem fantasmas, zumbis e outras coisas assustadoras.

E, para dar vida a estes tipos bizarros, além de Albarn, que dá voz à 2D, vários músicos e produtores renomados foram convocados para os dois discos que a banda lançou até agora (a idéia original era ter apenas um e acabar, mas o sucesso falou mais alto), como o produtor Money Mark, os rappers DeLaSoul, músicos da velha guarda cubana (como o já falecido Ibrahim Ferrer) e jamaicana, ou do alternativo inglês (o doidão Shaun Ryder, dos Happy Mondays), e até o hippie-mor Dennis Hopper emprestaram suas vozes aos tipos animados.

Ao vivo, eles tiveram que evoluir dos primeiros shows, em que os músicos ficavam escondidos atrás de cortinas e a platéia assistia a projeções dos desenhos em telões, até o formato mais recente, que deixa todos com a cara desnuda no palco, mas agora auxiliados por sofisticadas projeções holográficas dos personagens em tamanho natural, o que quase faz do Gorillaz algo real de fato. E, na internet, até hoje eles existem num site muito bacana, criado por Hewlett, que reproduz a casa onde eles moram e gravam as suas músicas.

Tudo isso está revelado em "Bananaz", que mostra ainda que o conceito do Gorillaz demorou a ser entendido nos EUA (onde tudo é certinho e planejado, eles não entendiam como tudo aquilo poderia ser vendido) e que mostra ainda a influência musical que eles tiveram nas crianças do Reino Unido. Em dado momento, aparece um professor dizendo que, por causa do Gorillaz, a maioria de seus alunos passou a ouvir e conhecer reggae, dub, salsa e música negra americana, para além do pop e rock pré-fabricado que lobotomiza/monopoliza a juventude atual. Acabaram dando uma boa banana nestes.

Por: Tom Leão - O Globo

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