sábado, 9 de maio de 2009

Mash-ups made in Brasil

No país, em 20 anos, o gênero foi do gueto a festivais com 60 mil pessoas.

Se pensarmos que as primeiras noitadas de música eletrônica no Brasil aconteceram nos idos de 1986, em porões pouco recomendáveis, dá pra dizer que a evolução do gênero por aqui teve um crescimento rápido como as batidas que o caracterizaram.

Os primeiros responsáveis pela catequese eletrônica dos brasileiros foram os DJs Marquinhos MS, que começou tocando no Madame Satã, em São Paulo, e o carioca José Roberto Mahr, com o seu programa Novas Tendências, que ia ao ar no final da década de 80 nas rádios Fluminense (Rio) e 89 FM (SP). Pela cabine tosca do Madame Satã também passaram Mau Mau, Renato Lopes e Magal, trinca de DJS fundamental para o desenvolvimento do gênero.

De meados pro fim dos anos 80, São Paulo e Rio já tinham uma meia duzias de "danceterias" que aos poucos foram se moldando em clubes eletrônicos, como os europeus e americanos. Um dos primeiros a investir em batidas eletrônicas foi o Rose Bom Bom, em São Paulo, que tinha a dupla Marquinhos MS (já falecido) e Magal (que comemorou 25 anos de carreira em 2008) na cabine de som.

No início da década de 80, bem antes de descolados no Rio e de São Paulo descobrirem a música eletrônica em clubes de bairros de classe média alta, o hip hop com acento eletrônico de Kurtis Blow e Afrika Bambaataa formava futuras gerações de DJs nas festas de períferia promovidas por equipes de baile como a Chic Show, em SP e Furacão 2000, no Rio. Para se ter uma idéia da coisa, os bailes da Chic Show chegaram a reunir 15 mil pessoas. Entre os frequentadores estavam, ainda moleques, Marky, Patife e KL Jay.

Em 88, a cidade ganhou o primeiro "club" a lançar mão de outros aspectos da cultura eletrônica, o Nation. Ali, pela primeira vez, circularam gírias específicas do público da noite, viu-se um esboço do culto ao DJ e foram impressos flyers com referências divertidas ao "mundinho" (nome da minúscula cena eletrônica na época) e um novo código de se vestir se espalhou, pautado pelo exagero (a "montação", copiada dos travestis).

Os anos 90 viram o nascimento de várias estrelas nas cabines de som, com atenção especial aos meninos do drum'n'bass que levaram a música eletrônica puxada no tempero do samba para a sua primeira parada internacional, Londres. Com trecho de "Carolina Carol Bela", de Jorge Ben e Toquinho, a música "LK" lançada em 2002 por Marky (foto menor) e XRS, se tornou o primeiro grande hit para exportação da eletrônica verde-amarela.

No final da década passada, clubes e festas eletrônicas do país começaram a receber público cada vez maior, abrindo espaço para que grandes marcas se aventurassem no mercado. Estreava nesse contexto o Skol Beats, festival que chegou a reunir 60 mil pessoas em 2006.

Hoje ao vermos o produtor Gui Boratto (foto) cruzando o mundo com seu techno melódico em megafestivais como o americano Coachella, é difícil acreditar que os pioneiros do gênero, o duo paulistano Habitants, tenham dado o pontapé nessa história em 1993. "Pontapé", aliás foi o primeiro blockbuster do techno brasileiro, lançado internacionalmente pelo paulistano Renato Cohen, em 2002.

Dos primeiros discos tocados por seu Osvaldo Pereira, DJ que abriu a porteira da profissão em 1958, fazendo bailões em São Paulo, até a oficialização do Sindicato dos Disc-Jóqueis e Profissionais da Cabine de Som, que está prestes a lançar sua polêmica carteirinh (à la Ordem dos Músicos do Brasil), lá se vão 51 anos.

Diz que o número é uma boa idéia. A gente espera que ela continue a se espalhar.

Por: Cláudia Assef* - Cena Eletrônica (encarte especial da revista Rolling Stone/abril)
* Claudia Asseg é autora do livro "Todo DJ já sambou". Além de blogueira e DJ, ela é editora executiva do portal vírgula

1 comentários:

dmx1604 disse...

Muito interessante clau. Amor, Fúria e Trabalho. Agradeço aos pioneiros por existirem. Estou aqui por que eles começaram.

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