sexta-feira, 8 de maio de 2009

A Música Eletrônica, de Thomas Edison aos Mash-ups

O som que começou como uma experiência científica evoluiu, dividiu-se em subgênero e ganhou status de arte.

Música de robô. Bate-estaca. Música sem alma. Bateção de lata. Esse é o tipo de palavreado frequentemente usado para diminuir a importância da música eletrônica na nossa época.

Por mais que doam nos ouvidos, os tais "xingamentos" passam longe de serem mentirosos. Afinal, a música eletrônica nasceu de máquinas mesmo. Mas, dominando-as, estavam gênios de carne e osso, que se não tivessem alma nunca teriam levado adiante seus sonhos malucos.

A música é uma das formas de arte mais antigas da humanidade. Mesmo assim, foi só no século 19 que se criou uma maneira de reproduzi-la eletronicamente. Antes de Thomas Edison patentear o fonógrafo, em 1878, ela só podia ser apreciada ao vivo, com músicos e ouvintes num mesmo recinto. Ou seja, forçando um pouquinho, dá pra dizer que toda música que é reproduzida (seja por um radinho de pilha ou por um super sistema de som) e não tocada ao vivo acusticamente é em essência, eletrônica.

Hoje é fácil se perder na imensa quantidade de rótulos da música eletrônica. Mas até chegar a preciosismo de subgêneros como electrohouse, dub step, minimal techno alemão e até brazilian drum'n'bass, muitas válvulas foram queimadas, literalmente. Gênios como o professos russo Léon Theremin, que em 1928 criou o instrumento que ganhou seu nome, e o americano Robert Moog, inventor do sintetizador que abriu espaço eletrônico até no rock, devem ser lembrados e reverenciados até hoje.

Com sonoridade de trilha de filme de ficção científica, o Theremin ainda causa estranhamento quando é executado ao vivo, já que o músico manipula o instrumento à distância, como se estivesse fazendo uma mágica. Em 1971, quando quatro alemães de Dusseldorf resolveram se unir para gravar em disco seus experimentos com sintetizadores e outras máquinas, muita gente deve ter achado que se tratavam de alienígenas. Na ativa até hoje, com apenas um dos integrantes da formação original, o Kraftwerk (foto) é para a eletrônica o que os Beatles são para o rock. Foi a primeira vez que o gênero, antes reservado a músicos e apreciadores de música erudita, ganhou apelo pop e chegou às massas.

Se a pista de dança virou o local preferido dos seguidores da música eletrônica, há que se estudar suas raízes, fincadas, é claro, na disco music, especialmente na produzida pela dupla Donna Summer e Giorgio Moroder. O produtor italiano deixou sua marca futurista mais forte no som da diva no hit "I Fell Love", de sonoridade extremamente moderna até hoje. Moroder é um nome que vale investimento à parte, se a idéia dor mergulhar a fundo nas batidas eletrônicas.

Nos anos 80, o som do Kraftwerk já havia percorrido o mundo, e não foram poucas as reações artísticas à sua música. Na Inglaterra, o som robótico ficou mais pop, dando origem ao technopop de grupos como Depeche Mode, Yazoo, Soft Cell e New Order. Enquanto isso nos Estados Unidos, nasciam gêneros calcados nas batidas eletrônicas: em Chicago, a disco ganharia contornos hipnóticos e repetitivos para dar origem à house; em Detroit, cidade da gravadora Motown, a herança da soul music tornou-se uma das marcas fortes na criação do techno; enquanto em Nova York, Afrika Bambaataa e o DJ Grandmaster Flash juntaram James Brown e Kraftwerk para criar o electro.

Nos anos 90, vimos a massificação da música eletrônica, transportada de Nova York a Nova Délhi nos cases dos DJs. Principal divulgador das batidas eletrônicas, o disc-jóquei ganhou status de superstar e passou a arrastar multidões cada vez mais impressionantes. Uma das figuras que mais simbolizam esse fenômeno é o inglês Fatboy Slim, que chegou a reunir 250 mil pessoas num show gratuito em Brighton, sua cidade natal.

Hoje não é preciso nem ouvir música para entender a dimensão que o universo da eletrônica ganhou. Se palavras como "remix", "mash-up" (que nasceu da fusão de duas ou mais músicas), "DJ" e "chillout" fazem parte do seu vocabulário, é porque a música eletrônica já está no seu DNA e não precisa nem fazer exame para comprovar.

Por: Cláudia Assef* - Cena Eletrônica (encarte especial da revista Rolling Stone/abril)
* Claudia Asseg é autora do livro "Todo DJ já sambou". Além de blogueira e DJ, ela é editora executiva do portal vírgula

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