segunda-feira, 11 de maio de 2009

Os Britney Spears da eletrônica

Faz tempo que a dance music e/ou a música eletrônica convivem com o estigma do fake

Para muitos detratores do estilo, um universo onde uma apresentação “ao vivo” consiste em apertar botões e onde músicas são construídas inteiramente dentro do computador, nada pode ser considerado música “de verdade”. É um pensamento pra lá de ignorante. E cada vez mais antiquado, considerando-se que a manipulação de estúdio (e o playback) está presente em todo e qualquer gênero.

Mas sejamos sinceros: com tanta gente sem entender direito o que se passa ali entre o mixer, os cabos, as pick-ups/CDJs e aquele laptop (não insistem em chamar o Gui Boratto de DJ a toda hora?), tem muito malandro se aproveitando disso para se dar bem.

O que dizer, por exemplo, dessa história que aconteceu comigo e um conhecido DJ inglês de psytrance? Passei o constrangimento de tocar antes dele. No fi m do meu set, ele chegou, todo serelepe e animadão. Já achei esquisito quando se lançou por cima do mixer e passou a girar botões que nada faziam, afi nal eram de canais com o volume abaixado. Mas aí aconteceu o mais absurdo. Quando ponho minha última música e passo a bola, veio a pergunta que entregou toda a sua fi losofi a de discotecagem fraudulenta: “Essa música tá mixada com a próxima?”

Nunca tinham me perguntado isso antes! Para ele, certamente acostumado a tocar CDs mixados, era a coisa mais natural do mundo, obrigatória até, de se perguntar. Informei então ao candidato a Britney Spears das raves que a faixa acabava em dois minutos. Deixei ele com sua encenação e corri pro bar atrás de uma dose de algo verdadeiro.

A coisa é tão disseminada por aí que foi criado até um blog dedicado a desmascarar os (maus) atores: www. deadact.com (que considera o DJ serelepe citado acima “o rei do dead PA”.)

O blog traz uma série de fl agrantes de “artistas” fazendo supostos “live PAs” onde a única coisa viva era o dinheiro do cachê a ser recebido depois. Era um tal de cabo desligado, aparelho desconectado, gesto simulado e tela de computador com faixas inteiras na tela, que era caso de chamar não o Procon, mas a polícia mesmo. Para fazer uma denúncia de estelionato e falsidade ideológica.

No fi nal dos anos 80, três dos maiores hits traziam clipes onde a pessoa que aparecia cantando não era a verdadeira dona da voz. Assista “Pump up the jam”, do Technotronic, “Ride on time”, do Black Box, e “The power”, do Snap!. No primeiro caso, uma mulher bonitona, que aparecia também na capa do disco, fi ngia ser a rapper Ya Kid K, que acabou sendo retirada do armário para os clipes seguintes. Nos outros dois casos, cantoras fake de silhueta esbelta simulavam vozeirões que suas caixas toráxicas nunca teriam condições de projetar. Estes eram, na verdade, de Loleatta Holloway (caso do Black Box) e de Jocelyn Brown (caso do Snap!), divas lendárias da disco que compareciam nesses hits via sample. As divas gritaram mesmo foi na hora de saber do uso sem autorização no hit alheio. Mas foram urros de raiva e indignação.

Tem ainda casos de DJs impostores. Este já é um golpe um pouco mais difícil de concretizar, mas com tanto DJ por aí e tão pouca noção de como ele se parece, vale tentar. Em entrevista para o site djhistory.com, Sasha contou que uma vez um cara se passou por ele numa apresentação na Irlanda do Norte. Ele não sabe se o promoter estava envolvido ou não. Mas a atuação foi tão convincente, que o falsário fez o set inteiro e ainda foi pra casa com as 3 mil libras do cachê no bolso.

Convenhamos, em tempos onde cada vez mais DJs têm dispensado a mixagem no braço, usando softwares que fundem as músicas imperceptivelmente (incluindo aí o próprio Sasha), fi ca cada vez mais duro diferenciar os Patifes dos patifes.

Por: Camilo Rocha - djmag

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