quinta-feira, 7 de maio de 2009

A que ponto chegou a cultura DJ e quem está certo e/ou errado nessa história

Rola essa lenda que, em 1976, músicos que teoricamente não tocavam porra nenhuma chegaram pra tomar a música pop das mãos dos músicos que eram exímios em seus instrumentos e no auge da fama. Eu já ouvi isso um milhão de vezes das mais variadas formas. O punk rock demoliu o progressivo ou algo assim. Aí, viajo na história das festas que trazem “Não-DJs” e vendem isso como estilo. Foram Bar Secreto e fi lhotes em São Paulo. Foi o Bailinho, no Rio, que começou do nada, chegou ao MAM no verão inteiro, fi cou enorme e cria herdeiros de vários tipos.

A técnica é não mixar. Ou nem saber pra que servem os botões de um mixer. Um amigo dono de um clube me relatou uma situação onde um dos “Não-DJs” tocou por bastante tempo com o grave do canal do mixer todo fechado. Por engano, claro, já que o Não-DJ nem sabia que aquele botão tiraria todo o grave. Ou provavelmente nem sabia o que era grave ou agudo numa música. Mas e a pista enquanto isso? Ótima. E aí?

Aí que a música rola como elemento nem tão importante assim numa festa. Provavelmente festas assim acontecem o tempo todo e sempre aconteceram, e até aí nenhuma novidade. Mas o fato de as festas dos “Não-DJs” bombarem é uma grande contradição com algo que me chamaram outro dia pra participar e que foi surreal. Na tentativa super bem vinda de um projeto de lei pra regulamentar a profi ssão de DJ, surge um dinossauro que ninguém assume diretamente, que propõe que depois dessa lei só pode tocar como DJ quem for formado em algum curso regulamentado por uma instituição que essa lei nomearia. Enfi m, DJ só diplomado?

Um sindicato? Um comitê? Uma comissão? O projeto de lei sugere que essa entidade fi ctícia teria o poder inclusive de negar a licença de DJ pra quem eles acharem que não merece. Um debate foi convocado. Na MTV. Eu estava lá. É claro que, como isso é um absurdo, todos foram contra, até quem estaria lá pra defender a nova lei, incluindo o próprio senador Romeu Tuma, que encaminharia o projeto dentro do Legislativo.

A que ponto chegou a cultura DJ... Uma pequena parte crê que somente DJs diplomados deveriam ser autorizados a tocar e fazem inclusive analogias com as profi ssões de médico e piloto de avião. E do outro lado temos uma outra pequena parte, que faz o maior barulho trazendo festas nas quais um DJ profi ssional ser o condutor é uma ofensa. Alguém está errado?

Fight for your right to party ou party for your right to fi ght. Escolha o que você preferir, mas alguém querer achar que pode ter o poder de regulamentar a sua festa, a sua diversão, e ainda achar que pode ter o poder de veto em alguma festa que eu fi zer e chamar o meu vizinho surdo pra tocar é muita picaretagem e perda de tempo, né?

Dá até pra noiar e fi car pensando: será que a cultura DJ tá enchendo o saco pra parte do público? Ou será que o fato de a música eletrônica ter chegado tão fi rme no mainstream incomoda aquele que sempre curtiu justamente o caráter underground disso tudo? Momento crossroads total.

Texto: Dudu Marote - djmag
Fotos: Rodrigo Gomes

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